02/04/2007

Transgénicos? Não obrigado!

Foi recentemente apresentada pela primeira vez prova científica irrefutável do impacto na saúde de milho transgénico. Trata-se da variedade MON 863, produzida pela Monsanto (a maior multinacional de sementes transgénicas do mundo) e que foi objecto de estudo toxicológico pela própria empresa. Num artigo publicado numa revista científica prestigiada são apresentados os resultados, dramáticos, da análise detalhada desse estudo: há alterações de crescimento e grave prejuízo para a função hepática e renal (fígado e rim) dos animais de laboratório que consumiram tal milho 1.
“O problema é que os dados estatísticos desse estudo foram manipulados pela própria Monsanto. Agora três cientistas franceses analisaram esse relatório, fizeram novos estudos e chegaram a diferentes conclusões”. A análise dos dados da Monsanto apresentada neste estudo revela um aumento de até 40 por cento dos triglicerídeos do sangue em ratos fêmea e uma redução de até 30 por cento do fósforo e sódio na urina de ratos macho. “Também se detectaram alterações no peso dos animais: os machos cresceram menos que os animais de controlo e as fêmeas cresceram mais. Estes valores são estatisticamente significativos e estão directamente relacionados com o consumo do milho transgénico” 2.
Entretanto, o Instituto do Ambiente (IA) decidiu esta semana permitir a realização de ensaios com milho transgénico em campos situados no concelho de Rio Maior, por considerar que estão reunidas “as condições mínimas” (mínimas para quem? para a saúde humana?) para a realização do projecto (a decorrer nos próximos três anos) apresentado pela multinacional Syngenta. Recorde-se que tanto a Câmara como a Assembleia Municipal aprovaram a declaração do município como Zona Livre de Transgénicos (ZLT).
Por estes motivos, o vice-presidente da Câmara Municipal de Rio Maior já admitiu vir a recorrer da decisão, pois foi “com tristeza” que tomou conhecimento “oficioso” da decisão do IA, ao qual não deixa de reconhecer “legitimidade técnica e científica”. Contudo, a autarquia admite que, enquanto aguarda a comunicação oficial para tomar uma posição “em conformidade”, irá analisar o documento do IA, admitindo desde já que possa vir a recorrer de tão perigosa decisão. Questionado sobre a referência, constante no documento do IA, de que não deu entrada nenhum pedido oficial tanto do município de Rio Maior como dos de Salvaterra de Magos e Alcochete para que sejam declaradas ZLT, o vice presidente adiantou que o processo “tem uma burocracia complicada” que leva o seu tempo. O objectivo não se cinge apenas aos ensaios, mas visa, mais genericamente, impedir o cultivo de plantas transgénicas no concelho.
Também em reacção ao documento do Instituto do Ambiente, Margarida Silva, da “Plataforma Transgénicos Fora”, declarou (à Lusa e à RTPN) que o IA faz uma leitura “extremamente simplista da avaliação de risco”. Como exemplo apontou o facto de a Direcção-Geral de Saúde ter afirmado que não há risco para a saúde pública, uma vez que o milho a usar nos ensaios não se destina a entrar na cadeia alimentar, ignorando que “o pólen pode ser alergénico”. Por outro lado, afirmou que não fica salvaguardado que o IA possa acompanhar as fases críticas dos ensaios. “Em termos técnicos, o documento tem muitas falhas”, disse, frisando que, no campo político, é preciso não ignorar que as autarquias visadas se declararam “Livres de Transgénicos”, independentemente de terem ou não formalizado essa decisão.
No seu entender, a portarcia que rege as ZLT “é uma aberração”, criando restrições à sua criação ao impor “a ditadura da minoria”. Segundo disse, não basta que a declaração seja aprovada por dois terços da Assembleia Municipal, sendo necessária a unanimidade de todos os agricultores do concelho, o que é armadilhar a criação das ZLT” 3.
E conclui citando ainda as preocupantes conclusões de estudos recentes sobre segurança alimentar que demonstram a toxicidade das proteínas e dos processos transgénicos indagando se finalmente "vai acontecer alguma coisa ou a ciência afinal não serve para nada" 4.
E você? Quer arriscar a levar do supermercado mais próximo para o prato dos seus familiares comida de origem transgénica? Nós não, obrigado!

1. Este e outros documentos podem ser consultados a partir do URL www.stopogm.net/?q=comment/reply/157
2. Ver o URL
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=114&id_news=267168
3. “Rio Maior admite recorrer de autorização de ensaios de transgénicos” 2007-03-31, no URL
www.omirante.pt/index.asp?idEdicao=51&id=14522&idSeccao=479&Action=noticia
4. "Às três, será de vez?" Público 2007-03-31.

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