07/08/2007

Sustentabilidade ecológica

Consolidar e desenvolver a sustentabilidade física e ecológica do concelho de Lisboa, através do Plano Verde, é uma tarefa “que não tem nada a ver com arranjar jardinzecos”, recordou o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, que há uma década coordenou a equipa responsável pelo projecto 1.
Para já é preciso “fazer um levantamento rigoroso dos constrangimentos urbanísticos que entretanto surgiram e que podem dificultar a concretização dos corredores verdes”.
Por exemplo, a construção de “uma biblioteca municipal no Vale de Santo António, as intervenções urbanísticas no Vale de Alcântara e em Campolide e as pressões sobre os terrenos da freguesia da Ameixoeira que integram o denominado Parque Periférico” são alguns dos locais que o arquitecto apontou como sendo necessário analisar, recordando que “ao mudar, há uns tempos atrás, o nome de Parque Periférico para Coroa Periférica, a Câmara já tinha mostrado as suas intenções, reduzindo a área em questão”.
Relativamente ao Vale de Alcântara, para onde a intervenção proposta no Plano Verde assenta na “necessidade de regularização do regime hídrico do vale, com a criação de uma nova linha de água que funcione como alternativo ao caneiro de Alcântara”, Ribeiro Telles realçou o facto de nada ter sido feito nesse sentido, o que leva à manutenção dos problemas provocados pelas inundações no local. Por outro lado, “verificou-se a impermeabilização dos solos com a construção de prédios”. Dois factores que terão de ser profundamente estudados.
Outro potencial imbróglio no desenvolvimento do Plano Verde - cujo cenário de acção é exactamente a Estrutura Ecológica Municipal - é a zona ribeirinha. “O Plano Verde gaguejou sempre nessa zona, principalmente no troço situado entre Belém e Algés”. Além do sempre difícil diálogo entre a APL e a CML quanto ao aproveitamento das potencialidades daquela margem ribeirinha, perfilam-se no horizonte projectos que podem colidir com o desenvolvimento do Plano Verde.
A zona da Docapesca, em Pedrouços, a área monumental de Belém e o percurso entre Santa Apolónia e o Cais do Sodré são os troços em causa. Para Santa Apolónia está prevista (como garantiu José Miguel Júdice, que deverá presidir às três sociedades encarregues da reabilitação da margem ribeirinha) a criação de um terminal de cruzeiros e para Belém o novo Museu dos Coches. Já para Pedrouços aponta-se um maior índice construtivo.
A Estrutura Ecológica Municipal deverá ainda “concretizar-se em articulação com as estruturas ecológicas dos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa”. Garantindo que as respectivas Câmaras “têm os planos todos feitos”, defende que “as estruturas ecológicas são fundamentais, principalmente onde existem grandes extensões urbanísticas”. Finalmente, tudo isto terá se ser integrado ao nível do PNPOT - Plano Nacional da Política de Ordenamento do Território.
Particularmente sensível à questão do abastecimento de uma população que, na AML, atinge cerca de quatro milhões de pessoas, o arquitecto considera urgente a criação e desenvolvimento de uma grande área de produção, onde o Oeste será “fundamental para alimentar Lisboa de produtos frescos, assim como a Margem Sul. E isto tem mais importância do que a questão dos aeroportos”. Por outro lado, “há anéis de hortas sociais, como as que existem entre Carnide e a Charneca 2, que deveriam merecer toda a atenção”. O Plano Verde, por si, não será relevante se não forem consideradas as “diversas vertentes que têm de ser articuladas. É uma intervenção global”, rematou 3.

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