11/02/2008

Coro de protesto a favor do ensino especializado da música

O Conservatório de Lisboa diz-se muito penalizado se a nova reforma for adiante. Pais, alunos e conhecidos músicos estão insatisfeitos.
Por isso, hoje às 10h, à entrada da Escola de Música do Conservatório Nacional (EMCN), em Lisboa, haverá um original coro de protesto: uma manifestação, com um cordão humano em torno do edifício, concertos e reuniões. O mote: a reunião que a direcção da escola irá ter com o grupo de trabalho do Ministério da Educação (ME) que está a reformar o ensino especializado da música. Objectivo: chamar a atenção para aquilo que a escola considera um atentado ao ensino ali ministrado.
O Ministério quer que as escolas de música públicas - os conservatórios de Aveiro, Braga, Coimbra, Lisboa e Porto e o Instituto Gregoriano de Lisboa - deixem de oferecer os cursos de iniciação musical às crianças do 1º ciclo, e que deixem de ter alunos em regime supletivo (que estudam noutras escolas e aprendem Música no conservatório). Estas medidas põem em causa o ensino na maior parte das escolas, mas tem sido Lisboa que mais se tem indignado.
A EMCN pode mesmo vir a perder a maioria dos seus alunos: cerca de 550 podem ficar de fora do ensino supletivo. Em vez dele, a tutela propõe que as escolas mantenham o regime articulado (o aluno tem aulas na escola básica ou secundária, articuladas com as disciplinas no Conservatório), mas ofereça sobretudo o ensino integrado (todas as disciplinas na mesma escola, passando a componente Música a um mero apêndice curricular).
Segundo o director da escola, a EMCN tem apenas 44 estudantes nesta situação e “à excepção de Braga, somos os únicos a ter integrado no 5º ano e no secundário”, informa Wagner Diniz, e se não há mais alunos é apenas porque as famílias e eles próprios não o desejam, contrapõe outra professora na EMCN. “Os pais não estão interessados porque não são de Lisboa e preferem fazer menos deslocações para o centro da cidade”, explica. E os alunos também preferem ficar nas escolas onde estão, porque é lá que têm os seus amigos, acrescenta.
Para a directora do Conservatório de Aveiro, os três sistemas podem coabitar. Também a Federação Nacional dos Professores tomou uma posição, no final da semana, afirmando o mesmo. Contudo, o ME insiste em levar por diante a reforma, com um tempo de transição para o novo modelo.
Há precisamente um ano, foi conhecido um relatório sobre o ensino da Música, encomendado pelo Ministério da Educação. O estudo feito por uma equipa de professores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa demolia o actual modelo, considerando-o caro e com baixas taxas de sucesso. A sugestão do grupo, liderado pelo ex-secretário de Estado da Administração Educativa do Governo Guterres, foi a de que o ensino artístico seja feito, em regime integrado, ou seja, que a formação específica seja no mesmo local em que se têm as outras disciplinas gerais.
Para a tutela, este tipo de ensino poderia ajudar a melhorar o trabalho pedagógico e a reduzir as taxas de retenção e abandono escolar, mas esse não é um problema que afecte o universo escolar das artes musicais, pois os alunos frequentam-no por convicção e vocação. Actualmente apenas 17 mil estudantes num universo de 1,5 milhões têm acesso ao ensino artístico especializado, mas “cada um dos regimes tem virtualidades e defeitos. O que pedimos é que os alunos possam escolher”, recorda o director da EMCN 1.
A petição “Contra o Fim do Ensino Especializado da Música em Portugal” reúne já mais de 14.000 assinaturas 2.

1. Ver Público 2008-02-10
2. Ver
www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?CFEEMP

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu deus, já não chega existirem "carradas" de alunos pouco interessados na maior parte das disciplinas nas escolas, ainda querem possibilitar o ensino da música apenas a pessoas que o iniciem com.. 10 anos? Uma arte que por muitas vezes é apenas procurada após os 16, 17, 18 anos? Querem que existam praticamente apenas músicos "obrigados" em Portugal? E que já está prestes a acabar o seu curso em academias ou outras escolas privadas ligadas a conservatórios? Agora as bandas vão passar a "mandar" na formação da maior parte dos músicos portugueses? E os Guitarristas? E já não se aposta em crianças que "nasçam para a música" , crianças estas com 5,6,7 anos? Decididamente no ME não deve existir gente ligada ao ensino real. Estou a ver que se isto acontece mesmo vou ter de ir para o estrangeiro.

orquestra nuda disse...

http://ensinoartisticoedespesaspublicas.blogspot.com/

DESCONCERTO MANIFESTAÇÃO
Ensino Artístico

"Pela despesa do ensino supletivo,
pela defesa dos lavatórios públicos"