15/02/2008

Manifestação concerto em S. Bento

Cerca de 400 pessoas, sobretudo alunos da Escola de Música do Conservatório de Lisboa (EMCN), assistiram hoje a um ‘concerto’ em frente à Assembleia da República, em sinal de protesto contra a reforma do ensino público artístico recentemente anunciada. À “manifestação concerto” juntaram-se igualmente alunos e professores dos Conservatórios de Música de Aveiro e Coimbra, bem como vários artistas e outras personalidades.

“São 10 milhões do orçamento da Educação, uma pinga num oceano que tem um retorno fenomenal, os músicos em Portugal são muito produtivos, é uma indústria de 111 milhões de euros, é um investimento bastante pequeno com grandes repercussões, são 17 mil alunos que abastecem o mercado de profissionais de música”, declarou Tiago Ivo Cruz, fundador do Movimento de Defesa do Ensino Artístico - MovArte. Salientou ainda que, caso a reforma vá por diante, “acaba-se com o regime supletivo, cerca de 90% dos alunos, acaba-se com a profissionalização de uma inteira geração de músicos profissionais em Portugal”.
É sabido que o Governo pretende acabar com o chamado regime de ensino supletivo, que permite aos alunos frequentar as disciplinas musicais no Conservatório e as do ensino geral numa escola à sua escolha. O ensino supletivo contribuiu para a formação de inúmeras gerações de músicos de que são exemplo Maria João Pires, Jorge Palma, Mário Laginha (presente no protesto) e muitos outros. Segundo este último, “aquilo que vai acontecer é que o ensino especializado de música só será acessível àqueles que têm dinheiro. Ora, o que a ministra está a fazer, se não é mortal, é muito perto disso”.
Para o Ministério, a reforma surge com o intuito de ‘democratizar’ o ensino da música, tornando-o acessível a mais jovens. Porém, não são especificados nem o tipo de formação, nem os graus e níveis de conhecimento que se pretende alcançar. De acordo com dados do Governo, apenas 17 mil alunos num universo de 1,5 milhões têm acesso ao Ensino Artístico Especializado, mas a expectativa é que sejam cerca de 25 mil a partir do próximo ano lectivo.
Segundo a tutela, a reforma “tem como objectivo fundamental aumentar o número de alunos a frequentar o Ensino Artístico Especializado”, objectivo que passará por uma melhor organização da oferta destes cursos e sua disseminação “por uma rede mais alargada de escolas ao nível do ensino básico e secundário”. Para os profissionais trata-se de “um absurdo” e pura falácia por nivelar o ensino por baixo.
Quem também marcou presença foi o maestro Vitorino de Almeida que colocou uma questão à ministra da tutela. “Quem é que pediu à ministra da Educação para fazer estas reformas? Os músicos não foram, os professores também não, os alunos estão aqui. Os pais? Não me parece”, exclamou o maestro 1. Entretanto, a petição contra o fim do ensino especializado da Música recolhe já mais de 17.200 assinaturas 2.


1. Ver
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=80626
2. Ver www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?CFEEMP

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