18/02/2008

Um Ministério desafinado

Segundo dados referentes ao ano lectivo de 2006/2007, fornecidos pelas escolas públicas de música que ministram iniciação a crianças com menos de dez anos, e nos quais as iniciações fazem parte do 1º ciclo do regime integrado, nos Conservatórios de Aveiro, Braga, Coimbra e Instituto Gregoriano de Lisboa, pelo menos 205 crianças estavam a receber os primeiros ensinamentos deste ramo do ensino artístico.
A estes números deverão ainda somar-se os do Conservatório do Porto, que informou ter ministrado iniciações a 94 crianças dos 6 aos 9 anos (números apenas disponíveis para 2004/2005), e os 206 alunos que no corrente ano lectivo de 2007/2008 frequentam o Conservatório de Lisboa (EMCN) 1.
A própria ministra da Educação terá também actualizado esta semana os dados, informando que 570 crianças estão já a receber iniciações no presente ano lectivo. E que a tendência será para crescer, pois nos últimos dois anos houve sempre aumento de inscrições. Deste modo, segundo a tutela, ao todo estarão inscritos cerca de 3.300 alunos em estabelecimentos públicos de música, a que se juntam pouco mais de 14 mil noutras 98 escolas do ensino musical privado e cooperativo.
O estudo reconhece também a evidência do aumento da procura das iniciações, mas nem por isso o Ministério quer voltar atrás. No mesmo trabalho pode ler-se que “investigações quanto à relação entre as variáveis idade e aproveitamento entre os anos (lectivos) não são de molde a demonstrar que as crianças que começam mais cedo os seus estudos são também aquelas que melhores resultados apresentam”.
Para o director do Conservatório de Lisboa, Wagner Diniz, “o relatório sobre o ensino artístico é completamente contraditório, porque afirma que não é verdadeiro que as crianças tenham de iniciar a aprendizagem da música antes dos dez anos, mas depois reconhece que há cada vez maior procura e defende a extensão do ensino às escolas normais”.
Ou seja, apesar de o Ministério da Educação reconhecer que há cada vez maior procura dos cursos de iniciação musical dos Conservatórios - recorda-se, como acaba por provar o estudo feito pelo próprio Governo (!) -, estas conclusões não mudaram as suas intenções, e persiste em defender o fim do ensino artístico no 1º ciclo das escolas de música públicas 2.
Contradição que só vem demonstrar a incoerência da reforma que o Ministério pretende encetar.

1. Números cedidos a “Os Verdes em Lisboa” pela direcção da EMCN.
2. Ver
http://dn.sapo.pt/2008/02/17/sociedade/ministerio_admite_maior_procura_desv.html

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