04/01/2009

Ambiente não pode servir para sustentar a crise do sector privado

O pacote de medidas de combate à crise, apresentado pelo Governo em meados de Dezembro, destaca o facto de “o investimento público” poder constituir “um forte sinal para os privados”, como resposta à ameaça da crise financeira e da queda do preço do petróleo poderem prejudicar, em 2009, alguns investimentos, incluindo na área do Ambiente.
Os economistas reconhecem que o preço do petróleo, em queda livre depois da escalada registada nos primeiros seis meses de 2008, é um dos factores determinantes do investimento público e privado na área do Ambiente.
Para uma economista de uma instituição bancária, a crise poderá atrasar alguns investimentos no Ambiente, não só em Portugal, mas em todo o mundo, sendo “uma questão de prioridades políticas e, nos dias de hoje, é natural que se privilegiem outros investimentos e se adiem os ambientais”.
Ressalva ainda que as opiniões dos grandes especialistas internacionais se dividem e que não podem ser feitas previsões com segurança: “Muitos até dizem que o interesse nos investimentos ambientais só existe associado a benefícios fiscais, mas não é consensual. Outros acham prematuro investir nas renováveis, uma vez que a tecnologia ainda não atingiu a maturidade e isso concede instabilidade ao investimento”.
O presidente da Associação Portuguesa de Empresas Renováveis (APREN), reconhecendo também que a crise poderá enfraquecer as intenções de alguns investidores na área do Ambiente, salienta que os investimentos no sector poderão ser “ligeiramente” prejudicados pelo cenário de crise, mas apenas os pequenos investimentos.
Quanto ao papel do Governo, minimiza o seu impacto, pois “a ajuda estatal nesta área não passa pelo investimento, que deve ser assegurado pelos privados. Passa, sim, por fazer uma regulamentação mais clara e ter uma posição política de apoio e não de entraves ao investimento privado”.
No entanto, estas prioridades do Governo, em termos de investimento, são alvo das maiores críticas dos ambientalistas. “Basta comparar Portugal com os EUA. Enquanto Obama elegeu o Ambiente como uma das áreas centrais da política do seu Governo, José Sócrates continua a apostar nos projectos turísticos, rodoviários e na nova ponte sobre o Tejo”, afirma a Quercus, que defende que o executivo devia antes limitar “ao mínimo” a construção de novas estradas, apostar na reabilitação urbana e fazer uma “grande aposta” na eficiência energética e nas energias renováveis.
“Não há dúvida que estas energias são o futuro, mas, apesar do discurso do Governo ser pró-renovável, a prática mostra que as suas medidas são contrárias a esse discurso” 1.
Os ambientalistas da Quercus elegeram mesmo o ‘aviso da escalada do petróleo’ como um dos cinco ‘melhores factos ambientais’ do ano que acabou: “A subida do preço dos combustíveis conseguiu em pouco tempo o que a educação ambiental não alcançou em décadas: uma redução no consumo de combustíveis fósseis”.
Para a Associação, o maior desafio é “a consolidação do recente entendimento de que um melhor desempenho ambiental, nomeadamente ao nível energético e na poupança e salvaguarda dos recursos naturais, poderá constituir um grande contributo para ultrapassar a crise económica que actualmente nos bate à porta” 2.

1. Ver
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=380306&visual=26&rss=0
2. Ver ‘Balanço ambiental 2008’ IN www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?categoryID=567&articleID=2653

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