31/05/2009

Governos desperdiçam a maior arma para combater as alterações climáticas

Um especialista em urbanismo acusou hoje os governos de desperdiçarem o que considerou ser a maior oportunidade para combater as alterações climáticas, ou seja, o investimento na eficiência energética e no desenvolvimento sustentável das cidades.
“A comunidade internacional falha em perceber que a maior das oportunidades no combate às alterações climáticas passa por alterações a nível das cidades, onde cerca de 80 por cento da energia no mundo é utilizada e onde o equivalente é emitido em emissões de gases com efeito de estufa [GEE]”, afirmou um dos redactores da Agenda 21, o Plano de Acção para o Desenvolvimento Sustentável consagrado na Cimeira da Terra de 1992.
Apesar das críticas, o especialista mostrou-se ‘optimista’ que se consiga ‘carimbar’ um novo acordo global pós-Quioto durante a cimeira de Copenhaga, em Dezembro. “A boa notícia é que vai ser alcançado um acordo global na conferência de Copenhaga e os Estados vão fazer mais compromissos e disponibilizar mais recursos aos países em desenvolvimento para estes reduzirem as suas emissões poluentes”, acrescentou o especialista em urbanismo e desenvolvimento sustentável.
À margem da conferência ‘Roteiro Local para as Alterações Climáticas: Mobilizar, Planear e Agir’, que até 6ª fª reuniu (em Almada) especialistas nacionais e internacionais, bem como responsáveis autárquicos, para debater o papel dos municípios na luta contra este fenómeno – o mesmo técnico criticou que o processo internacional para encontrar um acordo pós-Quioto “continue muito focado em reduzir emissões em áreas onde, para fazê-lo, são precisos grandes investimentos que não têm retorno”.
“A verdadeira oportunidade para reduzir as emissões de GEE e garantir um retorno são as intervenções nas cidades, na maneira como aquecemos ou arrefecemos os nossos edifícios, nos combustíveis e transportes que utilizamos”, frisou o autor do livro ‘Welcome to The Urban Revolution, How Cities Are Changing the World’.
“Os nossos governos continuam a ser ingénuos e a não perceber o enorme potencial económico que advém da redução do consumo energético nas cidades, quando já foi provado que estas alterações são viáveis do ponto de vista técnico e económico”.
Salientou também que, se os países, num contexto de crise económica, continuarem focados no combate às GEE em áreas onde são precisos grandes investimentos, isto pode levar a que se reconsidere medidas e objectivos traçados: “O meu medo é que exista menos disponibilidade e vontade de investir nessas mesmas áreas”.
Quanto ao papel dos EUA nas negociações do novo acordo climático, foi peremptório: “Há uma crescente consciência por parte da nova administração e nos próximos anos haverá um forte investimento para aumentar dramaticamente a eficiência energética das cidades”. Uma mudança que, garante, “vai chegar tarde demais para a cimeira de Copenhaga”.

Ver Lusa doc. nº 9727615, 28/05/2009 - 17:20

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