13/01/2015

Intervenção referente à proposta de deliberação sobre o debate temático sobre transportes, na AML de 13 de Janeiro de 2015


Em primeiro lugar, “Os Verdes” gostariam de salientar a importância da realização do debate temático sobre os transportes em Lisboa, pois esta é uma matéria fundamental para o desenvolvimento da cidade, para a sua área metropolitana, para a qualidade de vida das populações do ponto de vista do seu direito à mobilidade, assim como do ponto de vista económico, social e ambiental.
É de salientar uma posição praticamente consensual ao longo do debate que foi a recusa da privatização do sector dos transportes. De facto, uma esmagadora maioria dos intervenientes expressou a sua preocupação e a sua contestação a qualquer tipo de privatização da Carris e do Metro e, na nossa opinião, esse deve ser o ponto de partida, não podendo haver desvios deste princípio.
Relativamente à proposta de deliberação, que contém vários pontos com os quais concordamos, o Grupo Municipal de “Os Verdes” considera fundamental ter presentes os seguintes aspectos:
Esta proposta de deliberação deve reflectir as preocupações manifestadas ao longo do debate. Os intervenientes vieram a esta Assembleia pronunciar-se sobre um assunto importante e que tem sérios impactos no dia-a-dia das populações, logo, qualquer documento que saia desta discussão tem de, obrigatoriamente, espelhar as preocupações e as necessidades das pessoas. Para “Os Verdes”, o objectivo deste debate não pode ser preencher agenda, mas sim debater de forma séria e coerente para podermos ter melhores transportes que respondam às reais necessidades dos utentes e a preços socialmente justos.
O que nos leva à principal premissa: o facto de a Carris e o Metro não deverem, nunca, ser privatizados. Esta foi a questão mais consensual no debate: qualquer privatização nunca traria nada de positivo nem daria resposta ao que o sistema de transportes deve ser, pois, tendo como objectivo reduzir os encargos do Estado, poria em causa um serviço público fulcral, como o de transporte colectivo de passageiros. E isso é inaceitável!
Consideramos também, e defendemo-lo ao longo do debate, que os transportes públicos colectivos na cidade de Lisboa devem ser valorizados, concretizando o direito à mobilidade, componente fundamental do sistema de transportes, através de uma melhoria substancial da qualidade, do conforto, da diminuição dos tempos de viagem, do aumento da segurança, da frequência e da oferta de transporte, sem aumentos permanentes dos custos, pois só assim se conseguirá atrair mais utentes para os transportes públicos em detrimento do transporte individual.
Defendemos também que a Autoridade Metropolitana de Transportes não pode ser uma entidade governamentalizada. Deve ser uma estrutura onde as autarquias da Área Metropolitana tenham uma intervenção determinante, na coordenação dos diversos operadores, no planeamento e no financiamento de um verdadeiro sistema de transportes que assente no serviço público.
- Na nossa perspectiva, a proposta de deliberação que agora analisamos peca por tentar reduzir o cenário de opções para o sistema de transportes como se apenas houvesse, de um lado, a privatização, e do outro, a gestão municipalizada. Então, onde fica aqui a opção, por inúmeras vezes defendida no debate, de combater a privatização que o Governo pretende concretizar e mantendo os transportes na esfera do Estado? Desde quando deixou essa opção de existir? Porque omite o parecer essa solução óbvia?
Há um outro aspecto nesta proposta que nos suscita algum desconforto que é o facto de a Assembleia Municipal de Lisboa poder vir a assumir uma posição sobre a gestão dos transportes em Lisboa, sem os Grupos Municipais terem tido o devido acesso aos estudos e a uma qualquer proposta de modelo.
As conclusões deste debate deveriam ser também o de tornar toda esta discussão em torno dos transportes mais clara e transparente, principalmente tendo esta Assembleia promovido este debate, parece-nos inadmissível que se diga que a Câmara apresentou ao Governo uma proposta coerente, sólida e realista, quando nada disso terá chegado a nenhum dos Grupos Municipais, o que é não apenas muito estranho, como lamentável.
Defendemos, por isso, que teria sido desejável e mais correcto que, perante um assunto desta importância e seriedade, não subsistissem quaisquer dúvidas, sendo fundamental conhecer-se claramente as intenções do Governo e da CML. Consideramos fundamental que, perante a tentativa de privatização do Metro e da Carris por parte do Governo, a CML que, até agora, não conseguiu travar este processo, lute contra esta privatização, envolvendo as restantes autarquias, os trabalhadores e suas organizações sindicais e os utentes. A CML deverá definir claramente a sua posição contra qualquer tipo de privatização destas empresas.
Há um outro aspecto que não é focado na proposta de deliberação, apesar de exposto no debate, e que diz respeito ao facto de não ser certo que a gestão municipalizada que o executivo diz pretender concretizar exclua a possibilidade de privatização da Carristur e da Ferconsult, que integram a Carris e o Metro, respectivamente, o que representaria a alienação de parte destas empresas.
Em conclusão, “Os Verdes” apenas poderão concordar com uma deliberação por parte desta Assembleia que reforce o princípio de gestão da Carris e do Metro na esfera pública, excluindo a concessão a privados, com a sua coordenação a passar pela Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa, onde todos os municípios servidos por aquelas duas empresas terão de ter sempre uma palavra a dizer sobre os direitos dos seus utentes de transportes públicos.
Deverá ficar igualmente patente que deve ser incrementada a importância das empresas públicas de transportes colectivos, impedindo o seu desmembramento e privatização, assim como despedimentos de trabalhadores, consubstanciada numa resposta clara e firme da CML e da AML nesse sentido. Finalmente, propomos a votação em separado do ponto 5 das deliberações.

Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

Sem comentários: