24/03/2015

Intervenção sobre a Proposta nº 07/2015 - Fixação de fatores de ponderação, a introduzir na fórmula de cálculo das compensações urbanísticas


Assembleia Municipal de Lisboa de 24 de Março de 2015

Esta Proposta pretende a fixação de um factor de ponderação específica de 0,1 quando a operação urbanística ocorra nos Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária onde se incluem as Áreas Urbanas de Génese Ilegal, e de 0,3 nas áreas onde, através dos Planos de Urbanização ou de Pormenor, se preconiza a reconversão urbanística programada de espaços com usos desadequados e obsoletos, como forma de incentivar a reabilitação urbana.

Ou seja, estamos perante duas tipologias de operações urbanísticas profundamente distintas.

No primeiro caso pretende-se incentivar a reabilitação de edifícios degradados em áreas urbanas vulneráveis do ponto de vista físico, urbanístico, económico e ambiental, contribuindo para a melhoria das suas condições de habitabilidade e funcionalidade, para a requalificação dos espaços públicos e como forma de promover a inclusão social e territorial. São áreas que necessitam de intervenções sistemáticas de reabilitação e revitalização urbanas e que, atendendo à fraca capacidade económica dos proprietários dessas áreas, devem beneficiar destes incentivos à reabilitação de edifícios degradados. Até aqui, tudo bem.

O problema começa no segundo caso, onde os instrumentos de gestão territorial existentes já preconizam uma reconversão urbanística programada de tecidos urbanos com espaços e usos desadequados e obsoletos levada a cabo por grandes promotores imobiliários, não se justificando a aplicação deste factor de ponderação agora proposto.

Esta medida irá contribuir para, por um lado, reduzir as receitas do município e, por outro, os encargos de construção dos promotores imobiliários.

Por que está a Câmara tão preocupada com os promotores imobiliários?

Além disso, poderá representar um défice de áreas para equipamentos e espaços verdes de utilização colectiva, o que não será nenhuma mais-valia para a cidade e para os munícipes. O que a Câmara nos propõe são óbvios prejuízos para o erário municipal.

Estamos a falar de projectos e empreendimentos privados a construir em grandes áreas urbanas da cidade que já estão abrangidas por Planos em concreto, nomeadamente Matinha, Boavista Nascente, Parque Mayer e Amoreiras.

Não faz, portanto, qualquer sentido que as compensações sejam reduzidas em terrenos que já tiveram uma valorização astronómica, que transformou zonas industriais em zonas urbanas.

Não podemos também deixar de realçar o facto de esta proposta aparecer quando alguns grandes empreendimentos de grupos privados estão quase a ser licenciados. Não será este mais um caso de subjugação aos grandes interesses de privados?

Aliás, há uma pergunta que se impõe e que «Os Verdes» gostariam que fosse respondida: qual o impacto que a aplicação desta proposta teria na arrecadação de receitas municipais, isto, numa altura em que os lisboetas viram surgir um conjunto de novas taxas que lhes vai directamente ao bolso?!

Quanto ao argumento do PS de que é uma forma de trazer investimento para a cidade, está por demonstrar que esses investimentos não se fariam caso não houvesse este incentivo. Será, por exemplo, que a sede da EDP não seria feita na Avenida 24 de Julho? Este argumento cai por terra e estamos, portanto, perante uma falácia e, para o demonstrar, lá está a sede da EDP em plena construção.

Consideramos também que não deve haver a dispensa de cedência de terrenos para espaços verdes ou equipamentos colectivos por parte dos promotores, apesar de prevista nalgumas situações no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, pois estes espaços são indispensáveis para a cidade, tendo repercussões a nível da saúde, das condições de salubridade das habitações e no aumento da impermeabilização dos solos, o que terá depois custos acrescidos e mais graves para todos nós.

Por estes motivos, «Os Verdes» discordam da alínea b) desta proposta, por considerarmos que não defende os interesses dos munícipes e prejudica claramente o erário municipal. 

Cláudia Madeira
Grupo Municipal de “Os Verdes

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