02/06/2015

Intervenção sobre o Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana da Madragoa


Assembleia Municipal de Lisboa, 2 de Junho de 2015

O Plano de Urbanização da Madragoa foi aprovado em 1997 e tinha como principal objectivo reabilitar e dotar o parque edificado de condições de habitabilidade.
Os resultados da execução deste Plano foram apenas parcialmente atingidos, tendo ficado por realizar a reformulação profunda do Largo e Rua da Esperança, a pedonalização de alguns arruamentos e ainda os equipamentos de educação ou sociais essenciais á dinamização sociocultural desta área da cidade.
Sobre esta proposta, queríamos destacar as questões de segurança, ou falta dela, que é o aspecto que nos faz ter mais reservas neste plano e que consideramos que necessita de uma resposta urgente.
Durante a vigência do Plano verificou-se uma profunda transformação da ocupação dos logradouros do quarteirão do antigo Convento das Trinas, ocupado pelas actuais instalações do Instituto Hidrográfico. Os edifícios térreos de características precárias que existiam foram substituídos por novas construções, com vários pisos e integrando-se no conjunto edificado, sem que tenha havido qualquer ganho no coberto vegetal mas apenas um melhor tratamento do espaço exterior. Deste modo verificou-se um aumento da área impermeável e prevê-se que o mesmo venha a suceder, na sequência da aprovação deste Plano de Pormenor, na área do antigo Convento dos Marianos.
Importa frisar a importância dos logradouros, como espaços privilegiados de infiltração de águas pluviais e respiração da malha edificada, são componentes essenciais da estrutura ecológica urbana. Como tal, a sua preservação e permeabilidade devem ser objectivos do Plano em apreço.
Entretanto, a CML entendeu proceder à alteração do Plano de Urbanização da Madragoa, mas esta nunca chegou a ser aprovada na AML pois a CML solicitou que fosse retirada, alegando que estava prestes a ser aprovada a versão final do Plano de Pormenor.
Ora no PDM, a antiga fábrica de cerâmica “Constância” é um imóvel a preservar que consta na lista de bens da Carta Municipal do Património Edificado e Paisagístico devido à sua importância enquanto património antigo industrial.
Não se compreende por isso como foi possível proceder à desclassificação desta antiga fábrica.
Fácil! Durante este período de tempo, entendeu a CML aprovar a delimitação e os termos de referência de uma Unidade de Execução e a subsequente operação urbanística, cujo projecto de arquitectura já mereceu aprovação, para a antiga fábrica de cerâmica, no interior do Quarteirão dos Marianos, em data posterior ao início da elaboração do Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana da Madragoa.
Vejamos, este Plano de Pormenor prevê a definição de normas de identificação, protecção e salvaguarda dos elementos de valor arquitectónico, histórico e arqueológico, mas a Unidade de Execução prevê e passa-se a citar “a demolição e reconversão para uso habitacional das instalações da antiga fábrica de azulejos “Constância”, actualmente desactivada e incompatível com a qualidade urbana e ambiental prevista para está área”.
E é assim que para resolver esta divergência se abre um processo para proceder desclassificação desta fábrica. Desta forma, passa a ser possível a sua demolição e reconversão para uso habitacional.
A recomendação da 3ª e 7º Comissões que prevê que o projecto de intervenção no Quarteirão dos Marianos deverá salvaguardar a memória do Lugar, designadamente da Fábrica, apesar de aprovada neste plenário, não foi contemplada no Plano de Pormenor, o que traduz uma enorme desconsideração pelas deliberações da Assembleia Municipal por parte da Câmara.
De referir ainda que a proposta para adaptar a antiga Fábrica num Pólo Cultural ligado às Artes e Ofícios da Madragoa, foi completamente ignorada, o que revela algum alheamento da vontade e aspirações da população residente e dos agentes de desenvolvimento locais.
 «Os Verdes» entendem que a criação deste Pólo Cultural permitiria criar sinergias com outros parceiros, e seria também uma mais valia para este Bairro Histórico, mas sobretudo para a cidade de Lisboa.
Este Plano prevê ainda a desactivação e relocalização do Quartel do RSB na Avenida Dom Carlos I, onde se localizava o antigo Convento da Esperança, e a criação de um Posto de Socorro Avançado, mas sem nunca ser mencionada a nova localização em concreto deste novo Posto. Também não afasta a possibilidade de o antigo Convento da Esperança, propriedade municipal, poder vir a ser alienado.  
«Os Verdes» consideram que com este Plano há questões graves de segurança que devem ser acauteladas e que continuarão a persistir alguns défices a nível dos equipamentos, nomeadamente de apoio a idosos e infância, bem como será necessário resolver vários problemas de âmbito urbanístico, ambiental, de estacionamento e de mobilidade dos residentes do Bairro Histórico da Madragoa, que devem merecer uma atenção particular da Câmara neste Plano.

Cláudia Madeira
Grupo Municipal de “Os Verdes

Sem comentários: