08/09/2015

2ª Intervenção do Deputado Municipal do PEV, Sobreda Antunes, na Declaração Política «Contra a privatização da água», na Assembleia Municipal de Lisboa, 8 de Setembro de 2015

 
Começamos por agradecer as questões colocadas.
É do conhecimento comum que o recurso água é insubstituível nas suas funções de suporte à vida e ao bem-estar humano, daqui decorrendo que o acesso quotidiano à água potável é indispensável à vida e à saúde de todos os seres humanos: ela faz parte do próprio direito à vida e a qualidade e a segurança da água e dos serviços de água é indissociável das actividades humanas e das relações entre territórios.
A água não é um ‘produto’, ou seja, não pode ser produzida, pelo que os instrumentos de mercado não são aplicáveis à água nem aos serviços de água, mas podem conduzir à sua degradação. Também qualquer sistema político-institucional que permita a exclusão de pessoas do acesso à água potável viola os direitos humanos.
Por outras palavras, o direito à água, em quantidade e qualidade adequada para alimentação, higiene pessoal e doméstica e saneamento são um direito humano fundamental, essencial à plena fruição da qualidade de vida, ninguém podendo ser privado da sua fruição, nomeadamente por razões económicas.
Como tal, os recursos hídricos são um bem público inalienável. A água não é passível de mercantilização pela concessão exclusiva ou alienação de bens do domínio público hídrico ou servidões relacionadas, nem pela transacção, negócio ou comercialização de autorizações ou títulos de alienação do aceso ou utilização da água.
A água é um recurso insubstituível para quase todos os sectores, sendo um suporte de vida essencial a todos os seres vivos, meio ambiente e condicionante das condições sanitárias do habitat humano. A sua disponibilidade, a segurança de pessoas, de ecossistemas, do património natural e construído, dos bens e das actividades económicas, dependem, não apenas dos usos da água, como da utilização e ordenamento do território e da cobertura dos solos.
A gestão da água, a garantia de fruição dos direitos à água, a afectação dos recursos hídricos e a sua preservação, bem como todos os custos e encargos pela fruição e utilização da água, directamente ou incorporada em produtos, têm enormes impactos na qualidade de vida de cada indivíduo e na sociedade em geral, nomeadamente, na saúde e bem-estar, mas também no custo de vida, na redistribuição de custos e benefícios, na exclusão de acesso à água espoliação de direitos à água, nos custos de produção e preços dos produtos e até na competitividade da própria produção nacional.
O actual contexto legislativo e institucional, orientado para a privatização e concessão a grandes grupos financeiros da exploração privada do domínio público hídrico e dos serviços públicos de águas, para o favorecimento da rentabilidade dos negócios de mercantilização da água e para o alijamento dos deveres do Estado na defesa dos direitos dos cidadãos e na protecção dos recursos hídricos, proporciona condições favoráveis à degradação do estado das águas e é profundamente lesivo dos direitos dos cidadãos e dos municípios relativamente à água como um bem público.
Por tudo isto, e mais do que nunca, urge não apenas defender a saúde humana, como a água como um bem público. É esta tomada de posição que “Os Verdes” propõem que seja assumida por esta Assembleia.
Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes



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