27/06/2016

Recomendação “Monumento ao calceteiro”


 
Lembrai-vos desta arte,

Penso que tem defesa!

Aparece em toda a parte,

Pois ela é bem portuguesa.

 

Quis sobretudo ser franco,

Fala aberto o coração!

Trabalho o preto e branco,

Sou um ourives do chão.


[António Mateus (Tony), calceteiro-poeta]

Em 15 de Dezembro de 2006, o Município de Lisboa homenageou e imortalizou a arte de calceteiro, com a inauguração do Monumento ao Calceteiro. Na cerimónia estiveram também presentes os formandos da Escola de Calceteiros de Lisboa.

O monumento, da autoria de Sérgio Stichini e executado por 2 dezenas de artífices da autarquia, era composto por duas estátuas em tamanho real feitas em bronze -  com figuras de um calceteiro a esculpir a pedra e um ajudante (batedor) com o maço a calcar a pedra -, e enquadradas por um quadro de calçada à portuguesa com a barca de São Vicente, em calcário branco e negro, e os corvos padroeiros da cidade (ver anexo). Situava-se na Rua da Vitória, entre a Rua da Prata e a Rua dos Douradores, em frente à Igreja de São Nicolau, local escolhido pela proximidade ao Rossio, onde surgiu em 1849 a calçada à portuguesa, tal como a conhecemos hoje, com o famoso desenho do mar largo.

Na altura, a vereação destacou representar "um símbolo fidedigno da cidade, tal como existe no primeiro testemunho gráfico, do século XIV", sendo aquela “uma homenagem da cidade de Lisboa a todos os calceteiros do passado, do presente e do futuro pelo seu trabalho magnífico de pessoas dedicadas, esforçadas e abnegadas”, lembrando que o ofício de calceteiro tem levado o nome de Lisboa e de Portugal a outras cidades do mundo inteiro pela beleza da sua arte, concluindo que "já não se fazia uma barca destas há 50 anos, a última foi criada no Jardim da Estrela".

Após a vandalização de uma das peças - a do batedor -, o conjunto escultórico acabaria por ser recolhido pelos serviços Lx Alerta do Município, para ser recuperado e, dizia-se, regressar o mais brevemente possível ao espaço público, mas a sua reposição jamais se verificou.

Considerando que a CML investiu nesta arte com a criação, em Novembro de 1986, da Escola de Calceteiros de Lisboa, que vinha desenvolvido um intenso trabalho de formação ao longo das últimas décadas, formando calceteiros e auxiliando a preparação de profissionais em outros países.

Considerando que, além do reconhecimento público da profissão, o Monumento ao Calceteiro tinha como objectivos a promoção da calçada à portuguesa e da qualidade artística do espaço público.

Considerando que o Monumento ainda continua a ser divulgado em roteiros culturais da cidade, fazendo com que turistas, infrutiferamente, procurem a sua localização.

Considerando que, ainda hoje, a calçada à portuguesa se mantém uma realidade em diversos pontos do mundo por onde os portugueses passaram, de Portugal a Timor, do Brasil a Macau, sendo um cartão de visita e parte da cultura portuguesa.

Neste sentido, a Assembleia Municipal de Lisboa delibera, na sequência da presente proposta dos eleitos do Partido Ecologista “Os Verdes”, recomendar à Câmara Municipal de Lisboa que:

1 - Reconheça as valências artísticas e turísticas das obras dos mestres calceteiros, trabalhadores especializados na colocação da calçada à portuguesa ou mosaico português, na cidade de Lisboa.

2 - Após o devido restauro, seja encontrado, na capital, um espaço público condigno para acolher o conjunto escultórico do Monumento ao Calceteiro.

3 - Pondere a elaboração de um guia turístico actualizado, representando e descrevendo os principais trabalhos artísticos em calçada à portuguesa na cidade de Lisboa.

4 - Dê conhecimento da presente deliberação a todos os vereadores da CML e à Escola de Calceteiros de Lisboa, sita na Quinta Conde dos Arcos.

Assembleia Municipal de Lisboa, 28 de Junho de 2016

O Grupo Municipal de “Os Verdes

Frederico Lyra                                                                      J. L. Sobreda Antunes

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